Wonderland
TEATRO DE MARIONETAS DO PORTO Cine-Teatro Constantino Nery M/12 anos co-produção WONDERLAND A partir de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll. volta a abordar o universo fantástico e povoado de nonsense do diácono anglicano, fotógrafo e celebrado professor de matemática de Oxford, Charles Dogson, mais conhecido por Lewis Carroll. Desta vez o espectáculo destina-se a um público adulto e os personagens das histórias de Alice libertam-se do jogo da linguagem e emergem na sua dimensão onírica. Personagens que são como cartas que Lewis Carroll joga, inconscientemente, no seu jogo de amor com Alice. Wonderland é o sonho de Alice sonhado por nós. Vamos com ela, atravessamos a floresta luminosa cheia de medos e segredos, inventamos caminhos que antes lá não existiam e deixamos Alice perdida. Quando Alice pergunta ao Gato: “Como posso sair daqui?”, o Gato responde: “Isso depende muito do sítio para onde queres ir”. Aí sentimos que o sonho inventado por Carroll para a sua Alice amada toca ao de leve a nossa realidade. E quando Alice, no seu percurso iniciático, alcança o jardim maravilhoso de rosas brancas da rainha nós estalamos os dedos para que o seu sonho (e o nosso) acabe no momento certo. Final feliz? Marco este dia com uma pedra branca (do diário de Lewis Carroll) Encenação e cenografia – João Paulo Seara Cardoso Como chegar Parque de Estacionamento DOCA PESCA Preço 1,00€ com apresentação de bilhete para a Sala Principal Virginia Woolf LEWIS CARROL …Para nos transformar em crianças, Lewis Carrol começa por nos adormecer. "Descendo, descendo, descendo, será que esta descida nunca terá fim?" Vamos descendo, descendo cada vez mais para aquele mundo assustador, loucamente inconsequente e, no entanto, perfeitamente lógico, em que o tempo corre e depois pára, em que o espaço estica e depois se contrai. É o mundo do sono e é, também, o mundo dos sonhos. Os sonhos aparecem sem qualquer esforço consciente; o coelho branco, a morsa e o carpinteiro, um após o outro, rodando e transformando-se uns nos outros, saltam e atravessam o nosso pensamento. É por isso que as duas Alices não são livros para crianças, são antes os únicos livros em que nos tornamos crianças... Ser criança é ser muito literal, é achar que tudo é tão estranho que nada nos surpreende, é ser cruel e brutal, mas tão apaixonados que uma pequena repreensão ou contrariedade escurece o nosso mundo. É ser Alice no País das Maravilhas. É ver o mundo de pernas para o ar. Muitos sátiros e moralistas já nos mostraram o mundo de pernas para o ar mas fizeram-nos vê-lo como os adultos o vêem, barbaramente. Só Lewis Carroll nos mostrou o mundo de pernas para o ar como uma criança o vê, e nos fez rir, irresponsavelmente, como uma criança ri. Através dos bosques de puro disparate, vamos rindo, rindo: "Procuraram-no com dedais, procuraram-no com cuidado, Procuraram-no com garfos e esperança ..." E, então, acordamos. Nenhuma das transições em Alice no País das Maravilhas é tão fantástica. Porque acordamos para encontrar - o Reverendo C. L. Dodgson? Ou Lewis Carroll? Ou uma combinação dos dois? Este objecto conglomerado pretende produzir uma edição de Shakespeare extra-Bowdlerizada para as meninas inglesas, suplica-lhes que pensem na morte enquanto vão brincar e que nunca, nunca, se esqueçam que "o verdadeiro objectivo da vida é o desenvolvimento da personalidade ..." Será, então, que existe ao longo deste livro algo como a perfeição? 1939 Lewis Carroll IDEIAS SÚBITAS, MORTE REPENTINA …Frequentamos locais de entretenimento como o teatro — digo frequentamos porque também eu vou ao teatro, quando é bom — e afastamos tanto quanto possível a ideia de podermos não voltar vivos. Mas, caro amigo cuja paciência este longo prefácio tem martirizado, como é que queres saber se não te calha a sorte durante o mais arrebatado contentamento, se não surgem a dor violenta ou a fraqueza mortal que anunciam a crise derradeira? Depois ver, com um vago espanto, os amigos preocupados curvarem-se sobre ti, ouvir o seu inquieto sussurro e talvez até perguntar, com lábios trémulos: 'É verdade?', obtendo como resposta 'Sim, o fim está próximo' (mal estas palavras forem proferidas quão diferente parecerá a vida). Como podes saber se isto não te acontece hoje à noite? E , sabendo isto, arriscas-te a dizer "Bom, a peça é provavelmente imoral: as situações são talvez demasiado ousadas, os diálogos um pouco fortes demais, o assunto talvez excessivamente provocante. A minha consciência não está totalmente descansada, Mas é uma peça tão interessante e divertida que tenho de vê-la. Amanhã começo uma vida melhor". Amanhã, amanhã, sempre amanhã! Vou parar aqui para dizer que a ideia da possibilidade da morte - calmamente considerada e imperturbavelmente encarada — é uma das melhores provas para sabermos se procedemos bem ou mal quando vamos a um espectáculo. Se a ideia de uma morte súbita no teatro te enche de pavor, então é certo que a peça te é prejudicial, a ti e aos outros, e quando lá vais corres um risco mortal. Segundo a regra mais fidedigna, da qual podes estar certo, não devemos atrever-nos a viver num teatro em que não arriscássemos também morrer. 1883 |