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Agenda do Porto
29 mai 2007

Filo-Café no Clube Literário

filocaf_

Estão abertas as inscrições para este filo-café.
As áreas de inscrição abrangem: pensamento, performance, teatro, música, poesia, curta-metragem, fotografia.
As inscrições podem ser feitas enviando para incomunidade@gmail.com o nome do participante e a área em que se inscreve. Qualquer dúvida poderá ser saneada através do tm: 965817337.
Estará também disponível, desde já, o habitual dossier sobre o tema aberto a todas as contribuições. Este dossier será permanentemente actualizado de acordo com as recepções.

Entre outras manifestações, proceder-se-á, neste filo-café, à apresentação do livro:

A beleza da tua alma faz-me tremer de Rogério Carrola.

Inscrições (em actualização permanente):
Alberto Augusto Miranda (porto, teatro), Alexandre Teixeira Mendes (porto, pensamento), Amilcar Mendes (porto, poesia), Ana Marta Fortuna (Porto, teatro), António Pedro Ribeiro (braga, poesia), Artur Alonso Novelhe (ourense, poesia), Belém Andrade (Compostela, poesia), Carlos Lourenço (sto antonio dos cavaleiros, performance), Conceição Paulino (porto, poesia), Concha Rousia (Xinzo de Lima, poesia), Henrique Dória (porto, pensamento), Hugo Veloso (rio tinto, performance), Jorge Taxa (porto, pensamento), José Manuel Barbosa (braga, poesia), Nuno Florencio (lisboa, teatro), Pedro Estorninho (lisboa, teatro), Peter Jensen Silva (braga, música), Rogério Carrola (tortosendo, poesia), Salviano Ferreira (oliveira do douro, poesia)

Dossier Permanente:

Da beleza perdida aos "interfaces"

O culto da beleza é talvez um dos exemplos que caracterizam a concepção tradicional da arte europeia depois de séculos. Trata-se aqui de submeter à apreciação o lugar da beleza hoje? Recontextualizar a beleza perdida (inassimilável) no alvorecer do século XXI? Quando hoje se diz, por exemplo, que o sublime é o tema exclusivo da arte na pós-modernidade? Poderemos conceber a arte que tem como meta produzir um sentimento de beleza? Mas, dando que se aceita semelhante critério, por acaso não nos assistirá ao menos o direito de nos perguntarmos se este discurso - talvez um pouco exagerado - é ainda possível? O que interessa fixar como ponto assente é que desde há um século que as artes não encaram o belo como seu objecto principal mas sim consoante muito bem nota Jean François Lyotard - como algo que diz respeito ao sublime (O inumano, Considerações sobre o tempo, Lisboa, Ed. Presença, 1990, p.139). Revertendo ao nosso problema: torna-se bem claro que o sublime ilustra em sua história o cruzamento do limiar que designa. A sua génese vem do latim sublimis, isto é, sub = "até o" e limem = "o lintel". De um ponto de vista etimológico esta noção – talvez originalmente advinda da arquitectura - é suficientemente rica para que através dela nos seja possível reconstituir o seu uso que impele a ideia - repetimos - de ir até ao lintel e se elevar acima do topo, alcançando a pura transcendência, de modo que o "sublime" passa a significar aquilo que vai além do limiar.

Sublimação, deriva e desejo

Então como se pode abrir caminho à beleza? Partindo das suas diferentes configurações (inclusive a partir de eros)? Sabendo-se, a este respeito, que o culto da beleza na cultura ocidental permanece associado aos mecanismos do desejo? Podemos assinalar que a génese da pulsão é o corpo o que nos leva a concentrar a nossa atenção na linguagem como ponto de partida – a ordem simbólica - pois, como observamos, todos os objectos do mundo passam a ser significativos? A relevância do corpo-linguagem e das pulsões é geralmente lembrada em termos freudianos. Começaremos desde já por assinalar os seus três registros: real, simbólico e imaginário. E, por isso, os conceitos de sujeito, saber e verdade, na sua conformação especial, são um todo coerente. Como entender a realidade transfiguradora de eros que confere o esplendor da beleza a tudo aquilo que toca? Tomando em conta a prevalência do sujeito intervalar onde o corpo-pulsão torna-se psiquismo-representação?

Erotismo e "amor-paixão"

Mas expliquemo-nos um pouco mais pormenorizadamente. Aprofundando a investigação histórico-antropológica, claramente se vê a mística e o erotismo que têm obscuras afinidades com o trágico e a morte. Dir-se-ia que o erotismo e a religião, num sentido absoluto, se comprazem na proximidade do "demens". É aquilo que precisamente se comprova observando que a emoção religiosa e a emoção erótica estão de tal modo entrelaçados, que se torna difícil discernir até que ponto, cada qual, pode em dado momento, encontrar-se defronte essa amálgama de tormento e desejo, inacessível? George Bataille (cujo ensaio sobre o "Erotismo" foi publicado nos finais dos anos 50) argumenta que a catarse trágica, o êxtase místico e o orgasmo erótico representam estados de espírito estreitamente aparentados. Eis por que o sentido último do erotismo é a morte. Distinguindo de uma só vez o erotismo dos corpos, o erotismo dos corações e o erotismo sagrado, que, até onde nos é dado perceber, constituem aspectos da "vida interior" do homem, o autor de "Azul do Céu" extrai uma consequência imediata e inevitável: a interdependência entre proibição e transgressão. Parece, pois, com efeito, que a beleza e profanação são, nessa classificação esquemática, complementares. Isso basta para concluir pela necessidade imperiosa de outra leitura da história da beleza e do erotismo (para a compreensão da natureza específica das "situações limite"). Resta saber porque razão, e em que medida, a beleza e o erotismo conduzem ao "transbordamento". Não resta dúvida, se pensarmos um pouco detidamente, de que a mística e o erotismo (na sua embriaguez extática) têm obscuras afinidades com o trágico e a morte.
"Em sua nostalgia erótica e mística da união, – como escreve Walter Schubart -, o homem choca-se contra as barreiras da sua individualidade" (Eros e Religião, Ed. Artenova, 1975, p. 135). Estas variações não ficam por aqui, nesta questão. Há igualmente a considerar Dennis de Rougemont que, no livro clássico "O Amor e o Ocidente", interpretou a experiência do "amor-paixão". Ficamos sabendo que - situando-se para além da moralidade e legalidade - ditou por si só a linguagem obscura da poesia prevençal. E de facto, poder-se-á encarar esta poesia apenas como uma "assinatura-mundo" a partir de eros e, sobretudo das profundezas do demoníaco? Na realidade, porém, ao que parece, a paixão – interdita, o amor inconfessável - , nunca deixou de confrontar-se com o indizível ou os chamados constrangimentos sociais. Dito isto, não surpreenderá que afirmemos que o amor feliz – enquanto reencontro e conversão recíproca - não tem história na literatura ocidental. Aqui deparamos com o grande achado dos poetas da Europa: a obsessão de conhecer através da dor. É a história desse desejo de fusão mística – o culto libertino da beleza - que se opõe ao instinto de possessão.

Ubiquidade e "alento da musa"

A ideia de beleza, tal qual aqui a concebemos, não poderia ser concebida com o estudo da produção e percepção do belo? O não-representável? Como fazer que a beleza aflua à nossa arte (a partir da utopia negativa da cultura electrónica contemporânea)? É esse o problema. É à volta deste tema – a ubiquidade do belo – que parcialmente se contrói a "Aesthetica. Vejamos, porém, um pouco mais pormenorizadamente, como é que se faz uma revisão necessária do que foi e do que é a beleza. Esta atitude de quem se volta para a beleza já de si implica, sem dúvida alguma, o reconhecimento pela nossa parte do êxtase, da "fissura" ontológica, o "rasgão", o "não-saber" que desnuda? Que vem, porém, a ser a beleza da poesia que se nos dá como arte verbal ("contra-discurso" transgressivo)? Poder-se-á assimilar a poesia ao duende e o aduendado de Garcia Lorca? Que supõe, porém, algo convincente, abrindo margem assim ao "sublimis"? Quem se dispõe à beleza alucinatória que não cessa? Ao "transe"? Platão afirmava que ninguém seria bom poeta sem o sopro da loucura (ekstasis). O termo ekstasis significa "saída de si próprio". A poesia supõe a inspiração, uma inspiração do poeta por uma força divina – Musa ou Apolo – ou um "fora de si". A beleza que vamos tratar aqui é aquela que "articula" e "requer" o "Alento da Musa" (para usar um título do poeta galego Alberte Momán). A palavra "musa" soa aos ouvidos com um imemorial acento grego, como um eco de Petrarca; evoca o "eterno-feminino", que tem a virtude polarizadora de nos revelar a beleza e a plenitude da expressão. As musas trabalham para nos inspirarem. Ora, entre outras ficções, e como talvez a mais importante de todas, as musas são uma faceta inspiradora activa (colocam-nos, porém, diante das imagens inspiradoras que podemos encadear a manejar criativamente).

Paisagem, geografia e "derrota do pensamento"

A "matriz" da beleza será bastante conforme à dos "campos visuais", entre geografia e paisagem? Visando a necessidade do reconhecimento, pela nossa parte, da necessidade de atender o baixo, o humilde, o húmus, a terra, o acontecimento? Estritamente falando, a geografia se cinge à percepção, ao passo que a paisagem ao sentir. Talvez seja preciso acrescentar que, segundo Jean-Marc Besse, a paisagem é o inobjectivável, o irrepresentável (Ver a Terra, Seis ensaios sobre a paisagem e geografia, Perspectiva, São Paulo, 2006, p. 81). Na realidade, porém, ao que parece, o saber geográfico é a expressão das aventuras de um olhar viajante (Ib., p. 82). Pode parecer surpreendente, mas a beleza da terra já não está viva no presente.
Efectivamente os campos da lavoura e da agricultura transformaram-se em "indústria alimentar". Já só visualizamos o futuro como catástrofe. Fala-se hoje, insistentemente, das ameaças de destruição global que colocaram um fim às representações clássicas do progresso moral da humanidade. Tudo isso nos leva ao reexame dos dados exteriores deste apocalipse que contribuem para assinalar as incertezas e a miséria do racionalismo. A experiência da nossa época – onde se assiste à reconfiguração e novas coordenadas de um "sistema-mundo" dominado pela evaporação do "estado-nação" - mostra-nos que tendemos à fragmentação do sujeito, da expansão ilimitada das diferenças, de identidades mutantes ou, por via de regra, de identidades múltiplas. Já vimos que, bem examinada, a "cultura digital" - a cibercultura – faz sobressair "os modos de fazer mundos". Em tempos de reafirmação da "sociedade do espectáculo" – da"derrota do pensamento" segundo Alain Finfielkraut - , onde se assiste à contínua agressão da natureza e se tende a valorizar o super-realismo mediático e televisual é necessário, constatar, com efeito, a predominância da racionalidade técnica, que está no centro da reflexão heideggeriana (a modernidade como época da técnica). Vários indícios caracterizam a dessencialização do homem e, frequentemente, a devastação da terra. Por outro lado, tornam-se cada vez mais frequentes os chamamentos às ofertas de redenção financeira, tecnológica e política (onde repetidas vezes se assinalou o consenso liberal e democrático). Ninguém acredita já opção na "estética da comunicação" (e já o apontamos) que significa o predomínio do esteriotipado e do banal. Pode-se discutir se a obra da arte (na sua autenticidade) será portanto bastante conforme à comunicação imediata ou se identifica com o "articular" os próprios limites da comunicação. Nela se reata essa contra-parte da linguagem falada: a chave que abre a porta para o incomensurável da beleza perdida? Os "inter-faces"?
Parece-nos oportuno chamar a atenção para o "ver primordial": o pensar-poetar. Como falar da beleza ante um mundo "real-virtual"? Da "pós-realidade"? De que adianta afirmar o valor do prazeres (in)sublimados? A beleza torna-se in-evidente? Cegante - se tal conexão das palavras é permitida – incompreensível?

Alexandre Teixeira Mendes



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