BLACKBIRD no Teatro Carlos Alberto | de 5 a 14 de Março 2010
TEATRO CARLOS ALBERTO
5-14 Março 2010
Blackbird
de David Harrower
tradução e encenação TIAGO GUEDES
cenário e figurinos JOANA ROSA
desenho de luz NUNO MEIRA
sonoplastia RUI DÂMASO
com MIGUEL GUILHERME, ISABEL
ABREU e CONSTANÇA ROSADO / FILIPA REBELO
/ MARGARIDA LOPES
voz off CUSTÓDIA GALLEGO
assistente de encenação Juana Pereira da Silva
produção TNDM II em colaboração com TAKE IT EASY
M/16
duração 1H30
Sinopse
Ray, 55 anos, é confrontado com o seu passado quando Una, 27 anos, aparece de surpresa no seu local de trabalho. Culpa, raiva, emoções fortes e cruas surgem enquanto eles relembram a relação apaixonada que ambos viveram há 15 anos atrás.
Blackbird
fala de um assunto delicado com sensibilidade e sem juízos morais,
questiona os limites da nossa maneira de ver a vida, dos nossos tabus,
das nossas concepções de amor e de abuso.
“there
is a suggestion of dark places about it”
R.S Thomas
R.S Thomas
referia-se ao Blackbird comum (o nosso melro) quando escreveu estas
palavras num dos seus poemas, mas poderia bem estar a descrever o de
David Harrower. Através de um texto muito realista e verdadeiro, mas
escrito como se de uma pauta musical se tratasse, o autor transporta-nos
até ao centro de uma tempestade emocional. Una e Ray são duas almas
feridas que tentam perceber o significado do tempo que passaram juntos
e da transgressão que os uniu e mudou para sempre.
Quando decidi
que queria encenar esta peça, a principal razão foi a de poder estar
por perto enquanto dois actores se apoderam lentamente de dois
personagens
complexos e instáveis, cheios de dúvidas, incertezas e sofrimento.
Como profundo admirador do trabalho de actor, pareceu-me sempre que
seria um processo enriquecedor. E foi, claramente. Mas foi também
preciso
passar por todas as zonas escuras com eles, sofrer com eles e
perdermo-nos
por vezes, arriscando, experimentando, falhando. Ainda bem que tivemos
sempre as palavras de David Harrower como mapa do caminho que havia
a percorrer. Um mapa rigoroso para um caminho adverso e sombrio em tons
de cinzentos, nunca preto no branco, onde os personagens se contradizem,
se explicam, se acusam e que nunca nos deixam o conforto de uma certeza
na busca da verdade. Das suas verdades, a de cada um. Verdades
infestadas
pelos seus percursos e escolhas, e pela forma como o mundo foi
interferindo
com ambos. Blackbird não nos conduz a nenhuma certeza. E por
muito que Ray e Una procurem encontrar respostas um no outro, estão
sempre sós na busca incessante de um significado, de uma razão. Como
todos nós.
Obrigado por
aqui estarem.
Tiago Guedes
Blackbird
Blackbird, de David Harrower, leva-nos num sopro ao ambiente cercado de um reencontro entre um abusador e a sua vítima, mais de dez anos após a agressão sexual.
Una, na altura com doze anos, revive agora tudo o que se passou e questiona Ray, de 55 anos, sobre a sua vida actual e passada. Procura compreender o que é invisível aos seus olhos e tenta descortinar as motivações e sentimentos do homem a quem procurou, tantos anos depois.
Sabemos que
o abusador costuma ser alguém conhecido na família (neste caso do
pai de Una), com fácil acesso à criança. Muitos casos não são
revelados pelos sentimentos de culpa, vergonha, ignorância ou
tolerância,
a que não raro se juntam a relutância dos médicos e psicólogos e
a exigência de “provas” por parte dos tribunais. Apesar da sua
posição na família, é frequente os abusadores ameaçarem com agressões
ou mesmo morte se a situação é revelada pela vítima, o que leva
ao silêncio e sofrimento não revelado por parte da criança ou
adolescente.
Interessa saber
que apenas 2 a 8% (consoante os estudos) dos casos correspondem a
situações
não reais, mas a percentagem em que não é possível constituir
prova é muito maior, pelo que o apoio às vítimas com vista à
revelação é da maior importância. As consequências do abuso dependem
do tipo de agressão, da idade da criança, do apoio de adultos e da
relação estabelecida entre a vítima e o agressor, mas podem ser
devastadoras
e de longa duração. Predominam os sintomas depressivos, sentimentos
de culpa e vergonha e, por vezes, ideias e tentativas de suicídio,
só ultrapassados com apoio familiar e psicoterapia (nos casos mais
graves). Essa é uma das razões porque a prevenção é importante,
com acção nas situações em que a criança está em risco.
De tudo isto nos dá conta Blackbird. “Tu fizeste de mim um fantasma. As pessoas falavam de mim como se eu não estivesse presente. Não me deixavam falar”, diz Una a Ray, para mais tarde afirmar: “Eu não tenho que pensar. Está lá” ou “Eu não sei nada de ti a não ser que abusaste de mim”. Mas esta peça traz-nos também a ambivalência de sentimentos que pode surgir nas vítimas, em que amor e atracção se confundem com vergonha e angústia: “Tu deixaste-me apaixonada”, como se a violência estivesse escondida (pelo menos de início) com a atracção e o desejo de amor, o que só vem aumentar a culpa e a vergonha.
Em derradeira
análise, esta peça fala da liberdade e da autonomia, dos direitos
humanos e da dor moral, por isso não pode deixar ninguém indiferente.
Daniel Sampaio
David
Harrower
Nasceu em 1966, em Edimburgo. A sua primeira peça, Facas nas Galinhas (1995), foi uma co-produção do Bush Theatre e Traverse Theatre, encenada por Philip Howard, e conheceu grande sucesso em alguns dos mais importantes palcos europeus. Matem os Velhos Torturem-lhes as Crias estreou em 1999, numa encenação de Philip Howard, para o Traverse Theatre. Em Abril de 2001, Presença estreou no Royal Court Theatre Upstairs, de Londres, e foi encenada por James Kerr, seguida de Terra Preta, em 2003.
David Harrower fez várias adaptações de textos, tais como: a novela de ficção científica As Crisálidas (NI Connections, 1996); Seis Personagens à Procura de um Autor, de Pirandello (Young Vic, 2001); Woyzeck, de Büchner (Edinburgh Lyceum, 2001); Ivanov, de Tchekhov (National Theatre, 2002); Rapariga no Sofá, de Jon Fosse (Edinburgh International Festival/Schabühne, 2002) e Histórias dos Bosques de Viena, de Ödön von Horváth (National Theatre, 2003). Blackbird, apresentada pela primeira vez no King's Theatre, em Edimburgo, a 15 de Agosto de 2005, foi nomeada para Peça do Ano pela Saltire Society (2005) e recebeu o Lawrence Olivier Award para a Melhor Peça Revelação em 2007. Em Portugal, Facas nas Galinhas foi produzida, em 2000, pelos Artistas Unidos e publicada, numa tradução de Pedro Marques, na Revista Artistas Unidos, e, em 2009, pelo Teatro dos Aloés, com tradução de Paulo Eduardo Carvalho.
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